Educadores brasileiros ainda se sentem inseguros com o retorno às aulas presenciais

A saúde emocional dos profissionais da Educação Básica e sua percepção em relação à volta às aulas presenciais foram objeto de uma pesquisa on-line realizada pela Nova Escola, negócio social voltado a apoiar e oferecer recursos para educadores e melhorar a Educação pública no Brasil.

O levantamento se propôs a mapear como está a saúde emocional dos profissionais, qual o impacto da pandemia nesse quesito, quais os incômodos mais comuns e há quanto tempo eles lidam com esses problemas, entender quantos profissionais contam com ajuda especializada para cuidar da saúde emocional, além de fazer um comparativo com sua saúde emocional há um ano.

A pesquisa foi respondida entre os dias 31 de agosto e 10 de setembro nos canais da Nova Escola, por 4.004 profissionais da Educação, entre eles professores, diretores escolares e coordenadores pedagógicos de escolas municipais, estaduais e particulares. A maioria dos respondentes é professor (78,5%) e trabalha no ensino público (80,8%). O questionário foi disponibilizado para todos os estados da Federação e não obteve resposta apenas de educadores de Rondônia.

 

Nível de segurança no retorno

Questionados se a rede em que atuam já havia retornado ao trabalho presencial, 79,5% dos educadores disseram que sim, ainda que de forma híbrida. Entretanto os profissionais, de forma geral, ainda se sentem inseguros com o retorno às aulas presenciais.

Quando questionados sobre como classificam o seu sentimento em relação ao nível de segurança no retorno, em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘muito inseguro’ e 6 é ‘muito seguro’), a média foi de 2,8. Pouco mais de 40% dos profissionais se sentem “inseguros”, 40,6% “nem inseguros e nem seguros”, e 19,1% se consideram “seguros”.

A insegurança fica mais evidente quando comparamos professores da rede pública e da rede privada. O percentual de professores da rede pública que se sentem “muito inseguros” (0 na escala) é quase o dobro do percentual verificado na rede privada (18,2% x 9,9%). Os níveis de segurança com o retorno presencial de professores da rede privada também são mais elevados: 26% se dizem seguros, 69,4% nem seguros nem inseguros e 30,57% inseguros. Já na rede pública 42,68% se dizem inseguros, 39,9% nem seguros nem inseguros e apenas 17,4% seguros.

“Dentro desta questão, as respostas abertas mostram que há uma preocupação com os alunos também. As crianças e a maioria dos jovens ainda não estão vacinados. Em alguns locais, os professores convivem com interrupções por conta de casos de covid-19 na escola, pessoas que se recusam a se vacinar ou que não respeitam os protocolos de segurança, falta de material de proteção e de material e pessoal para limpeza e quantidade alta de casos de covid no município”, comentou a gerente pedagógica da Nova Escola, Ana Ligia.

 

Desafios enfrentados pelos estudantes na retomada presencial

Questionados sobre a maior dificuldade com os estudantes no retorno presencial, para os educadores, a diferença entre os níveis de conhecimento dos alunos é o maior desafio enfrentado nesta retomada, com 62,8% da escolha. Os participantes podiam escolher mais de um desafio e, em seguida, votaram por ansiedade (55%), ensino híbrido (39,7%), busca ativa dos alunos que se distanciaram (35,8%), e resistência por parte dos alunos com as mudanças (32,8%) aparecem na sequência.

 

 

Melhora na saúde emocional em relação à 2020

A saúde emocional dos educadores que acompanham a Nova Escola melhorou em 2021 na comparação com 2020. A pesquisa revelou que quase metade dos profissionais da Educação Básica (47,8%) avalia que a saúde mental hoje está “boa” ou “excelente”. Em 2020, eram somente pouco mais do que um quarto (26%). 

Além disso, houve uma redução bastante importante no total de respondentes que classificaram sua saúde mental como “ruim” ou “péssima”. Neste ano, o total foi de 13,7% contra 30,4% em 2020.  Não houve variação expressiva no percentual daqueles que consideram sua saúde mental “regular”: 38,5% em 2021 e  41,3% em 2020.

 

Queda na ansiedade e depressão

Os problemas mais relatados entre os profissionais de Educação em 2020 – ansiedade, estresse e depressão – melhoraram neste ano. Houve queda importante no total de profissionais que se dizem ansiosos e depressivos.

Os incômodos mais relatados pelos profissionais, em 2021, são os mesmos: ansiedade, estresse continuado, depressão, Porém com exceção de estresse continuado, os outros percentuais são menores nesta edição, com destaque, principalmente, para a depressão, que totalizava 20% em 2020 e diminuiu para 13% este ano. Ansiedade, por sua vez, caiu de 67% para 57,7% em 2021.

Ao mesmo tempo, aumentou de 23% para 31% o total de educadores que disseram não sofrer nenhuma das condições perguntadas na pesquisa.  

 

Sem ajuda profissional

Ainda que esta pesquisa revele dados mais positivos em relação à anterior, há um alerta importante: a maioria dos educadores segue sem suporte profissional para cuidar da saúde mental. O percentual de respondentes que disse não contar com suporte para sua saúde mental manteve praticamente o mesmo de 2020: 73% neste ano contra 72% no ano anterior. 

Dos educadores que possuem ajuda profissional para cuidar da sua saúde mental, aumentou a porcentagem que diz utilizar o SUS para se tratar: 15,6%. Em 2020, eram 8%. Ao mesmo tempo, caiu o total que disse fazer tratamento de forma particular: 41,4%. Em 2020, eram 57%. 

As razões mais citadas por quem não faz tratamento psicológico seguem também as mesmas: falta de condições financeiras (31,7%), não ter tempo disponível (18%), não acreditar que é importante para si (12,7%). Outros motivos foram citados por 36,7%.

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