Idioma e documentação incompleta ainda são entraves para acesso de crianças migrantes à educação

A falta de domínio do português de pais e/ou responsáveis, a documentação escolar incompleta e até a falta de dinheiro para fazer uma xerox ou tirar uma foto 3×4 ainda são entraves enfrentados por crianças e adolescentes de origem venezuelana para serem matriculados em escolas brasileiras.

Com a proximidade do início do ano letivo nas escolas públicas, essas dificuldades ficaram mais evidentes e, para minimizá-las, desde janeiro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Instituto Pirilampos e a AVSI Brasil, faz ações de orientação e informação para as famílias de migrantes e refugiados venezuelanos sobre a matrícula na rede pública de ensino.

“O Unicef atua como uma ponte, facilitando o acesso dessas famílias, principalmente de migrantes venezuelanos, aos serviços públicos. São pessoas que têm pouca informação sobre o processo, têm dificuldade de entender como funcionam os trâmites burocráticos. O papel do Unicef é dar essas informações e aproximar as famílias dos serviços, no caso das escolas”, explicou a oficial de Educação do Unicef, Julia Caligiorne.

Foi realizado um mutirão de matrículas para atender famílias que vivem nos abrigos e instalações da Operação Acolhida e em ocupações espontâneas em Boa Vista. Em duas semanas, mais de mil crianças e adolescentes foram pré-matriculados nas escolas com apoio da estratégia da Busca Ativa Escolar.

Foi realizado atendimento personalizado para cada responsável legal, com informações sobre o processo de matrícula, realização da pré-matrícula por meio de ligação telefônica quando possível, encaminhamento ao exame de classificação, além de um voucher para as fotocópias dos documentos necessários, assim como uma sessão de fotos 3×4.

Uma das beneficiadas na ação foi Genesis de Jesus, de 30 anos. Ela buscou auxílio para matricular o filho Isaias José, que completa quatro anos em abril. “Quero que meu filho estude, ele gosta da escola, quer conhecer novas coisas. Na Venezuela, ele fazia o maternal. Quando viemos, ele ficou com saudades dos colegas, ficou triste”, contou Genesis, que vive há sete meses em Boa Vista.

Isaias José e a mãe Genesis de Jesus foram atendidos na Ocupação Terra Prometida, no bairro Airton Rocha (Foto: Vanessa Vieira/Correio do Lavrado)

 

Além do mutirão

A estratégia da Busca Ativa Escolar, desenvolvida pelo Unicef em 60% do País, vai além do mutirão de matrículas e faz o acompanhamento escolar das crianças e adolescentes ao longo do ano. “Se daqui a dois meses, o estudante se evadir ou faltar, a gente consegue notificar através de articulação setorial e garantir que ele permaneça dentro da escola”, afirmou Julia. “A nossa preocupação é manter essas crianças na escola”, completou a coordenadora de projetos da AVSI, Ismitiely Sousa.

 

 

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