Produção de artesanato é fonte de renda para indígenas venezuelanos no Brasil

A produção e a comercialização de artesanato era a principal fonte de renda de quase metade de indígenas venezuelanos enquanto moravam no país de origem. No Brasil, a atividade milenar continua auxiliando no sustento das famílias de migrantes e refugiados de origem indígena, de pelo menos sete etnias.

Dados do Observatório Interativo da População Indígena do Fluxo Venezuelano para o Brasil, do Governo brasileiro e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), indicam que o artesanato é a principal tarefa realizada por mulheres indígenas para geração de renda (64,8%). Há ainda quem peça dinheiro na rua (19,8%), trabalhe como costureira (8,8%), agricultora (6,6%) e com cuidados e afazeres domésticos (4,4%).

Indígena warao, a artesã Alejandrina Gonzalez vive desde 2018 no Brasil, onde colocou em prática a arte que aprendeu com a avó e a mãe. “É o único sustento que tenho aqui no Brasil. Produzo sombreiros, pratos, cofres… Meus produtos não são tão baratos porque valorizo o nosso trabalho. Não vendo todos os dias, mas, quando acontece, [o dinheiro] ajuda em casa”, contou.

Alejandrina Gonzalez produz e vende artesanato para o sustento da família (Foto: Vanessa Vieira/Correio do Lavrado)

Alejandrina já morou no Abrigo Janokoida, em Pacaraima, e desde 2020 vive em Boa Vista. É uma das 135 artesãs beneficiadas pelo projeto desenvolvido pelo Museu A Casa do Objeto Brasileiro de geração de renda para artesãos migrantes e refugiados da Venezuela, da etnia warao.

“O Museu A Casa apoia essas pessoas na organização do trabalho, na capacitação [com oficinas de empreendedorismo, venda, educação financeira, padronização e precificação das peças], na obtenção de matéria-prima e na prospecção de clientes e escoamento das peças para venda”, explicou a assistente de coordenação da entidade, Yôkissya Coelho.

A fibra de buriti encontrada em Roraima, principal matéria-prima para a produção do artesanato indígena, é a mesma utilizada na Venezuela. “A partir da árvore do buriti, é possível usar a palha para fazer o teto de casas, fruta para fazer suco, sumo para alimentação e fibra para fazer artesanato, o que torna o projeto sustentável e dá continuidade a uma atividade milenar, de geração de renda e de reconstrução de vida”, acrescentou Yôkissya. Para que a tradição se perpetue, Alejandrina já ensina filhos, netos e companheiros de trabalho a atividade artesanal: “Muito ancestral”.

 

Mantendo as tradições

Além do artesanato, as famílias indígenas venezuelanas conseguem manter outras tradições vivas, mesmo morando no Brasil. No Waraotuma a Tuaranoko, maior abrigo para pessoas indígenas na América Latina, as habitações são maiores, se comparadas a de outros abrigos, para comportar famílias numerosas, possuem exaustores para maior circulação de ar e estrutura para redes. Na parte externa, há cozinhas coletivas com fogões à lenha.

Moradia dupla tem exaustor para maior circulação de ar (Foto: Vanessa Vieira/Correio do Lavrado)

“O abrigo é um espaço seguro, onde os refugiados e migrantes podem expressar a sua cultura em todos os âmbitos. Mas é sempre um espaço transitório, de busca por soluções duradouras para que as pessoas possam se integrar nos espaços urbanos”, comentou a associada de campo para assuntos indígenas da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), Lis Viana.

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