Homens têm três vezes mais chances de interiorização com vaga de emprego em comparação a mulheres

Aos 25 anos, Karlirys viveu nas ruas de Boa Vista com os dois filhos, realidade de muitas mulheres migrantes e refugiadas de origem venezuelana. Há cerca de um ano, ela foi interiorizada para o Rio de Janeiro, onde conseguiu abrigo por alguns meses, mas nenhum emprego. Não ter uma rede de apoio com quem pudesse deixar os filhos dificultou a busca por trabalho.

No abrigo, fez um curso de corte e costura e conseguiu emprego em uma empresa que produz para grandes marcas de vestuário. Mesmo com a dificuldade da jornada diária de oito horas de trabalho e o cuidado com os filhos e a casa, o emprego oferece para a família a vida melhor que Karlirys veio buscar no Brasil. “O mais importante é que estou dando o melhor para meus filhos”, diz.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de cada cinco casas no Brasil onde as mulheres são as únicas provedoras, três estão abaixo da linha da pobreza. Entre as mulheres refugiadas e migrantes, esse quadro tende a ser agravado pelo desconhecimento sobre mercado e leis trabalhistas brasileiras, além da falta de uma rede de apoio para que elas consigam sair em busca de um emprego.

Dados divulgados pela Operação Acolhida corroboram isso e apontam que os homens têm três vezes mais chances de serem interiorizados com uma vaga de emprego sinalizada em comparação com as mulheres refugiadas e migrantes.

Para que histórias como a de Karlirys não continuem acontecendo, a Agência da ONU para Refugiados e a ONU Mulheres iniciaram um plano para identificar os perfis das famílias monoparentais chefiadas por mulheres nos abrigos de Roraima e, a partir desse levantamento, atuarão em quatro frentes – duas diretamente com as empresas, e duas envolvendo, apoiando e acompanhando as mulheres beneficiadas.

 

Ação com mulheres

Junto a Operação Acolhida, serão identificadas mulheres que querem ser interiorizadas e que sejam as únicas responsáveis por crianças e adolescentes, assim como processos seletivos em que elas possam participar. Uma vez selecionadas, ACNUR e ONU Mulheres oferecerão treinamento e informação para que elas estejam preparadas quando chegarem ao destino – com instruções, por exemplo, sobre como acessar serviços e redes de proteção. Além disso, será disponibilizado um auxílio financeiro para cobrir as despesas por três meses, tempo em que a mulher e sua família estiverem se adaptando à nova cidade.

Uma vez empregadas e adaptadas ao novo local, as mulheres serão acompanhadas pelas agências, a fim de avaliar e aprimorar o plano de trabalho conjunto. Nesse mesmo intuito, as empresas empregadoras receberão treinamentos e consultorias por seis meses após a contratação das mulheres refugiadas e migrantes.

 

Ação com empresas

A partir de plataformas já existentes, como Empresas com Refugiados, o programa conjunto Moverse e os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs), o ACNUR e a ONU Mulheres irão sensibilizar empresas que participam dessas iniciativas para que mais oportunidades sejam oferecidas a mulheres refugiadas e migrantes que estão como únicas responsáveis por crianças e adolescentes.

Além disso, haverá o estímulo ao desenvolvimento de políticas internas que promovam a igualdade de oportunidades e de responsabilidades entre homens e mulheres, como sensibilizações sobre redistribuição dos trabalhos de cuidado, apoio para custeamento de creches e escola, e oferecimento de espaços educativos e de cuidados para filhos e filhas dentro das próprias empresas.

As empresas que tiverem interesse em participar da iniciativa, é possível entrar em contato pelos e-mails tarantin@unhcr.org e flavia.muniz@unwomen.org. Não há custo para a participação, porém, a empresa necessita passar por uma avaliação prévia e firmar compromisso público voltado para o empoderamento de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil.

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