Tatiana e Jane têm mais do que a nacionalidade em comum. As duas venezuelanas imigraram para o Brasil em busca de melhores oportunidades e melhor qualidade de vida para a família.
Com a neta Daniele, de cinco anos, no colo, Tatiana Silva, de 32 anos, conta que decidiu morar em Pacaraima, cidade na fronteira com a Venezuela, por causa da família. “Não tinha dinheiro para viver lá. Estou juntando dinheiro aqui para mandar para meus familiares”.
Ela e o marido moram em Pacaraima há quatro meses e estão montando um restaurante de comida venezuelana. “Aqui não tem restaurante venezuelano e o brasileiro também gosta da nossa comida”, diz, citando a arepa como um dos pratos principais.
A família de Tatiana mora em Ciudad Bolívar, capital do estado de Bolívar. Lá, relata a venezuelana, não há remédio nem comida. “As pessoas morrem à míngua, desnutridas. Não conseguem remédio. Aqui [no Brasil] pelo menos a gente come bem, tem medicamento”.
Exemplo – ruim – de desnutrição é o pai de Tatiana, que perdeu 40 quilos. Antes pesava 85 quilos, hoje pesa 45. “Como um bebê desnutrido”, compara. A avó morreu há dois anos com um tumor no estômago e o avô, de 90 anos, está em situação precária. “Daqui pelo menos mandamos algo para a alimentação. O leite é o mais importante”.
O alimento chega também para a filha de Tatiana, mãe da simpática Daniele. O irmão mais novo da menina também está lá. “O dinheiro não dava para os três comerem”, lamenta.
Também foi em busca de melhores condições para a família que Jane cruzou a fronteira Venezuela-Brasil. Com os três filhos. Natural de Maturín, ela percorreu cerca de 850 quilômetros até Santa Elena de Uairén de carona. Da cidade venezuelana até Pacaraima, o percurso foi feito a pé.
Quando chegaram em território brasileiro, no dia 23 de fevereiro, militares da Força Aérea Brasileira recepcionaram a família com água e bolachas. “Estamos muito cansados. Está muito quente e a comida acabou no caminho. Não tem mais nada”.
O medo de atravessar o país e chegar ao Brasil, onde a família pretende pedir refúgio, era grande. “Mas, com Deus, seguimos”. Aqui Jane quer trabalhar para dar um futuro melhor aos filhos de 13, oito e quatro anos.
Na Venezuela, o salário que ganhava como trabalhadora social não era suficiente para comprar um quilo de queijo. “Não tem como sustentar. Meu filho mais velho tem um quadro de desnutrição. Recebíamos uma ajuda a cada três meses, mas o pacote [com os alimentos] diminuiu. Tinha que controlar a comida”.
Maduro fora
Questionadas se querem a saída do presidente Nicolás Maduro do poder, as duas respondem: sim. “Maduro tem que sair. Já basta. Nós, venezuelanos, estamos sofrendo demais. A ditadura nos deixou mais pobres em um país tão rico. Acabaram com o nosso país. Estamos cansados e queremos que ele vá embora”, diz Tatiana.
Ela continua: “Maduro até quando? Já mataram tanta gente. Se protestamos, querem nos matar, nos dar um tiro na cabeça. Restam poucas pessoas na Venezuela. Queremos voltar para nosso país. Estou aqui na fronteira por isso, porque quero voltar”.
Jane concorda. “Quero de Maduro saia. Quando tu fala, te calam. Não há liberdade. Se as coisas não melhorarem, eu não volto. Tudo o que eu juntei por tantos anos se reduziu a uma mala. Me desprendi disso e vou seguir pelos meus filhos”.