Ele sobe num palco de cara limpa, pega o microfone e começa a contar histórias. O público se identifica e ri. Pode parecer fácil ser um comediante stand-up, mas não é. Em Roraima, o desafio é maior ainda.
Pelo menos essa é a opinião do analista de sistemas Leandro Saraiva, que escolheu a comédia stand-up como hobby e atualmente integra, na companhia dos amigos também comediantes José Caetano e Kayro Thuan, o grupo Comédia 3por10.
O desafio de ser comediante em Roraima, para Leandro, é o preconceito que a própria população tem. “Se vier algum comediante de fora, conhecido nacionalmente, o teatro lota. Mas os nossos shows não. Outro problema é a falta de divulgação”, conta, ao recordar que abriu o show dos comediantes Nil Agra e Rodrigo Marques, com público de 100 pessoas.
O preconceito, cita o comediante, parte também de alguns artistas, que não reconhecem a comédia stand-up como arte. “O Jô Soares fala uma frase, que concordo: ‘Todo comediante é ator, mas nem todo ator é comediante’. Não somos reconhecidos”.
Por subir ao palco de cara limpa, o comediante stand-up sofre com outro problema: tudo o que é falado ali é tido como verdade, mas pode ser apenas uma piada. “Se um humorista se apresenta caracterizado e fala alguma coisa, tudo bem. Mas se eu subo de cara limpa e falo, aquilo será interpretado como minha opinião. O brasileiro crucifica o comediante stand-up por causa de uma piada. É hipocrisia”, critica.
Processo criativo
Se antigamente os comediantes stand-up brasileiros apresentavam o mesmo texto por vários anos – como Rafinha Bastos e Fábio Porchat –, esse cenário mudou. Comediantes conhecidos do público jovem, como Thiago Ventura, Afonso Padilha, Murilo Couto e Fábio Rabin, publicam todas as semanas vídeos em seus canais no YouTube com textos inéditos, forçando a criatividade ao máximo.
Leandro está seguindo os mesmos passos, dentro de suas possibilidades, publicando uma vez por mês o ‘Saraivada de Notícias’, em seu canal no YouTube, em que comenta com humor o que acontece em Roraima. Como as notícias e, consequentemente, as piadas ‘perdem’ a validade, é preciso sempre estar com o repertório novo.
E, na comédia stand-up, há um acordo tácito de não contar a piada feita pelo colega. “Escrever um texto é um processo frustrante. Você pensa na piada, em toda a história, testa em três ou quatro shows e, quando ela tá pronta, vem alguém e rouba. É muito ruim quando isso acontece”.
Por que continuar?
Nem o preconceito nem a frustração no processo de criação do texto impedem Leandro de continuar escrevendo, subindo no palco e se apresentando. Ele tem como meta – e não como sonho – fazer um show no Comedians, primeiro bar brasileiro a funcionar como um comedy club, localizado em São Paulo.
“Faço comédia por hobby, porque ainda não ganho dinheiro com isso. A comédia me distrai, não me deixa enlouquecer. Mas a gente quer sair, fazer show em outros lugares, ser reconhecido em algum momento”, conta.