Em um ano, muita coisa pode acontecer. Um filho pode nascer, o namoro pode virar casamento, o endereço pode mudar. Todos estes e tantos outros momentos vividos pelos imigrantes venezuelanos que chegam ao Brasil por Roraima são retratados pelos olhares dos fotógrafos – profissionais ou não – que atuam na Operação Acolhida.
A exposição ‘Olhares Acolhedores’ – que fica no saguão do Pátio Roraima Shopping até o dia 31 de março – mostra como era Boa Vista antes da Operação Acolhida e como está hoje, exatamente um ano depois. A ideia é sensibilizar o roraimense quanto ao que foi feito de benéfico para a população.
“Queremos reforçar que o objetivo da Operação não é só atender ao venezuelano, mas também ao povo brasileiro. Mostrar como trouxemos de volta a urbanidade para a cidade. A exposição abre com uma foto de como era a Praça Simón Bolívar em março de 2018, com pessoas desordenadas, acampadas no meio da praça, sem higiene, e como a praça está hoje, arborizada”, comenta a chefe de Comunicação Social da Força-Tarefa Logística Humanitária, coronel Carla Beatriz.
As imagens chamaram a atenção de Hannah Maia, de 23 anos, assistente administrativa e graduada em Psicologia. Para ela, a exposição fotográfica é uma forma de mostrar a questão migratória de maneira diferenciada. “Muitas vezes as pessoas veem a migração pelo viés da crise e, com uma exposição de fotos, pode ser visto de outra forma, como uma oportunidade de crescimento para o Estado”.
Ela acredita que houve uma mudança no cenário de Boa Vista. “No início, a gente via mais pessoas nas ruas e nas praças. Com a chegada da Operação Acolhida, dos organismos internacionais, cresceu o número de abrigos e o número de pessoas nas ruas reduziu bastante”, conta.
Ainda assim, Hannah observa que as ações da Acolhida são muito voltadas para os imigrantes abrigados. “Sei que não tem como atender todo mundo, mas muitas ações são voltadas apenas para abrigados e ainda há muitas pessoas morando em prédios abandonados, alugando casas em condições extremamente precárias. As diversas ações que são feitas dentro dos abrigos, como a vacinação, poderiam ser feitas fora também. Existem instituições identificando quem mora nas ruas ou em prédios abandonados”.
Hannah concorda que ampliar a interiorização é uma opção, mas – assim como Camila Asano, da Conectas – acredita que nem todos querem ir embora de Roraima. “Muita gente quer ficar aqui. Seja porque tem esperança que a Venezuela melhore e queira voltar ou porque tem familiares que ficaram lá e leva comida e medicamentos. Temos que pensar nas pessoas que vão ficar aqui também”.
Só em Boa Vista…
Uma das fotos da exposição ‘Olhares Acolhedores’ retrata um casal durante o casamento coletivo realizado no Abrigo Rondon I no dia 15 de março, portanto um dia antes do início da exposição. A coronel Carla Beatriz fez questão de que aquela imagem fosse vista por todos.
“Ela [a brasileira Eli Aparecida Reis dos Santos] era a única mulher vestida de noiva e se casou com um venezuelano [Jhowar Skevin]. A cerimônia foi na sexta de manhã, revelei as fotos e à noite iríamos organizar a exposição. Fiquei imaginando que seria muito legal se ela soubesse que a foto dela estaria na mostra”, conta a coronel.
E, como em Boa Vista tudo pode acontecer, Carla reencontrou Eli naquele mesmo dia. “Um dos sargentos ainda estava fardado à noite e fomos ao hotel para que ele trocasse de roupa. Estacionamos ali e, quando eu olho para a lanchonete da frente, lá está a noiva, ainda com o vestido, tomando champanhe com os amigos. Peguei a foto e levei para ela, que ficou toda alegre. Quando que eu ia imaginar que eles iam tá ali na rua onde a gente estacionou? Foi uma feliz coincidência”.