Recém-chegado de Caracas, onde reuniu-se com o presidente venezuelano Nicolás Maduro na segunda-feira à tarde, o senador Telmário Mota (PROS) criticou a postura do governo brasileiro em relação ao governo venezuelano.
Para Telmário, a diplomacia brasileira cometeu três grandes erros: a Operação Acolhida no Brasil, o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente e servir como corredor para a ajuda humanitária.
“O primeiro erro foi a Operação Acolhida. Temos que fazer a Acolhida nos moldes da atuação no Haiti, com militares brasileiros. Uma ajuda humanitária com alimentação e remédio, mas lá na Venezuela, em vez de trazer essas pessoas para cá, que não tem infraestrutura”, citou.
“O segundo erro foi reconhecer Guaidó, que não foi eleito, como presidente. Isso criou uma rusga diplomática. O terceiro foi servir de fantoche para os Estados Unidos, deixando passar um caminhãozinho para alimentar 30 milhões de pessoas. Naturalmente, o Maduro se sentiu ameaçado e com sua soberania atingida”, afirmou.
Na visão de Telmário, esses três pontos afastaram os dois países. “Sabemos que todas essas ações do [presidente Jair] Bolsonaro são atreladas ao [presidente estadunidense Donald] Trump e ao [secretário de Estados dos Estados Unidos, Mike] Pompeo. [Bolsonaro] está à serviço dos Estados Unidos, se ajoelhou”, disse.
E continuou: “Ele [Bolsonaro] está envolvido com política externa. Ele tá errando se envolvendo na política de outros países e esquecendo de governar o Brasil, esquecendo dos 13 milhões de desempregados e atendendo a uma questão geopolítica americana”.
O senador reconhece que a função diplomática é do Poder Executivo, mas lembra que “tanto a diplomacia quanto a política têm em comum os acordos e o diálogo”. “Maioria da população brasileira não quer interferência na política interna venezuelana. Nós representamos o povo. Eu represento o interesse do meu Estado, que quer pacificar essa questão. Como senador, represento esse interesse nacional. Mas eu não estava dando sustentação ao governo do Maduro. Deixo isso bem claro. Fui lá em nome da paz”.
Avião venezuelano
O parlamentar contou que, como presidente da subcomissão temporária sobre a Venezuela na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, convidou autoridades venezuelanas para uma audiência. O governo venezuelano acatou o pedido e marcou reuniões tanto com o chanceler venezuelano Jorge Arreaza quanto com o presidente Nicolás Maduro.
O Senado solicitou à Presidência da República um avião, que transportaria Telmário, Chico Rodrigues (DEM) e Jacques Wagner (PT-BA) a Caracas, o que teria sido negado. “Por questões pessoais nem o senador Jacques nem o senador Chico puderem ir. Me propus a ir e a Venezuela, sabendo dessa situação, deslocou um avião até Santa Elena, onde embarquei”, relatou.
Na capital venezuelana, Telmário foi recebido por Arreaza e horas depois por Maduro. “O presidente mostrou vontade de reatar essa relação e o chanceler se mostrou sensível. Até porque a fronteira fechada não impediu a migração, que ficou desordenada, sem passar por fiscalização sanitária, alfandegária…”. O senador voltou a Boa Vista no avião venezuelano.
Reabertura da fronteira
Telmário reforçou que Maduro quer reabrir a fronteira, tanto que teria ordenado a reabertura temporária até sexta-feira, o que ainda não foi confirmado pelo Exército Brasileiro. “E, a partir de segunda-feira, vamos fazer reuniões com empresários, autoridades venezuelanas e brasileiras para negociar e reabrir a fronteira de fato”.
Maduro teria também, conforme Telmário, feito uma carta ao presidente do Congresso Nacional brasileiro, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), abrindo as portas da Venezuela para uma vistoria. “Para que o Parlamento brasileiro visite a Venezuela. Ele quer demonstrar transparência”.
Quanto ao fornecimento de energia elétrica, Maduro teria insistido na tese de sabotagem cibernética. “Ele contou que a Venezuela sofreu três grandes blecautes, sendo um de seis dias, fruto de sabotagem. Agora estão operando manualmente. Por essa razão estão com irregularidades e esperando a normalidade para voltar a fornecer energia a Roraima”, concluiu.