Ilirdayliris Yussek de Rodriguez e Leodan Rodriguez firmaram a união estável como a tradição diz: vestido de noiva branco, buquê de flores, terno e gravata. O local? Abrigo Latife Salomão, no Centro de Boa Vista, onde os dois se conheceram há poucos meses.
A felicidade estampada nos rostos dos noivos representava mais do que o reconhecimento da Justiça brasileira de que os dois formam uma família, representa uma nova vida para Ilirdayliris, que há menos de um mês renasceu após uma cirurgia para retirada de um tumor no rosto. “Dou graças a Deus pela vida. Deus me deu nova vida e, por isso, mês vesti de flores”, contou, mostrando o buquê colorido.
“Nos conhecemos aqui no abrigo por causa da doença dela. Lutamos para manter nosso carinho, amizade e amor. Me comprometi em ajudá-la, acompanhei a cirurgia. Agradeço a Deus por ter devolvido vida a ela porque era uma doença avançada, ela estava inchada e se a cirurgia demorasse mais ela poderia morrer. Graças a Deus, ao médico, aos militares que colaboraram e conseguiram dinheiro para ela fazer os exames particulares, ela está viva”, comemorou Leodan.
Agora, com a cirurgia realizada e a união estável formalizada, Ilirdayliris e Leodan buscam nova vida. “Se tivermos oportunidade, ficamos aqui porque nossas famílias estão na Venezuela. Mas, se tiver emprego digno em outro local, vamos”, concordaram.
Nellys Maria Mays e Jessica Carolina Torrealba também disseram “sim” à união estável. Juntas há pouco mais de dois anos, elas moram no Brasil há três meses. O reconhecimento da união estável é importante para o processo de interiorização. “Aceitamos ir para um Estado onde tenha trabalho”. Na Venezuela, elas trabalhavam como oficial de seguridade e cabeleireira.
Vínculo familiar
O juiz titular da Vara da Justiça Itinerante, Erick Linhares, ouviu o “sim” dos 51 casais no Abrigo Latife Salomão. Ele explicou que o serviço é o mesmo prestado aos brasileiros. “A diferença é que o atendimento é feito dentro dos abrigos e com algumas adaptações em razão da dificuldade documental, que eles não têm”. Para a união estável, não é necessário apresentar a certidão de nascimento, por exemplo, bastando a identidade.
A união estável auxilia na interiorização dos imigrantes venezuelanos como unidade familiar e para um abrigamento como família. “Desde o ano passado, 800 casais venezuelanos homologaram a união estável. É importante regularizar a situação dessas famílias até para manter o vínculo dentro dos abrigos”, reforçou.