Em pouco mais de um ano, quase seis mil imigrantes venezuelanos foram encaminhados a outros 18 estados brasileiros, por meio do processo de interiorização. Essa estratégia consiste em oferecer oportunidades de inserção socioeconômica, além de diminuir a pressão sobre os serviços públicos do estado de Roraima.
Neste mês, uma nova modalidade de interiorização está sendo implementada e consiste na reunião social, com base em laços de amizade. É o que explica a coronel Carla Beatriz, chefe de Comunicação da Operação Acolhida.
Com a abertura de novas vagas nos abrigos, os imigrantes que estão nas ruas poderão ocupar essas vagas. “Para abrir lugar nos abrigos, temos que interiorizar as pessoas já abrigadas, que já estão prontas, vacinadas, selecionadas e com documentação em dia. Temos a mão-de-obra e o que a gente pede é um engajamento de toda a sociedade para desafogar o Estado de Roraima”, reforçou.
Boa Vista tem 11 abrigos, sendo um destinado aos indígenas Warao (que não são interiorizados), e Pacaraima tem um abrigo indígena, o Janokoida, e um alojamento de passagem, onde os imigrantes em situação de vulnerabilidade são acolhidos temporariamente. Não há previsão de abertura de novos abrigos, por isso a importância da interiorização.
Até o final deste mês, estão previstas três etapas de interiorização, nos dias 26, 27 e 30, sempre para destinos diferentes. “Aos poucos a gente está conseguindo. É um trabalho de formiguinha, mas se todos se engajarem com certeza em pouco tempo a gente vai conseguir diluir todo esse pessoal pelos estados brasileiros”.
Mil pessoas nas ruas
A estimativa da Operação Acolhida é que mil venezuelanos vivam em situação de rua. A maioria, de 700 a 800, é assistida nas proximidades da Rodoviária Internacional de Boa Vista. Os pertences podem ser guardados numa espécie de guarda-volumes ao lado da Rodoviária. Ali também são distribuídas as barracas à noite.
Recentemente foram instaladas grandes barracas para abrigar essas pessoas no período de chuva e foi criado um posto para higiene pessoal, onde os imigrantes podem tomar banho e lavar roupas. “Garantimos a segurança na circulação dessas pessoas, para que não fiquem na área da rodoviária, evitando problemas aos usuários e comerciantes”, disse a coronel.
Ali próximo, há o Rodoviária 3, para a entrega de alimentação aos venezuelanos. “Temos organizações religiosas que oferecem esse alimento à noite. As quentinhas que não são consumidas nos abrigos também são levadas para essas pessoas. Cerca de 700 pessoas nos procuram para dormir em um local seguro e não sob marquises, portas de lojas e de casas”.
Fluxo migratório estável
Há 12 dias, o governo venezuelano determinou a reabertura da fronteira com o Brasil, no município de Pacaraima. Esperava-se um aumento na entrada de venezuelanos e consequente aumento no número de pedidos de refúgio ou residência temporária. Mas isso não aconteceu.
“Estava em Pacaraima na data de abertura e realmente aconteceu um aumento, mas por conta do comércio. A grande maioria das pessoas foi a Pacaraima para realizar comprar e depois retornou à Venezuela. Neste primeiro dia, tivemos um número de aproximadamente 850 pessoas, mas o fluxo maior foi de automóveis”, explicou a coronel.
O número de pedidos de refúgio e de residência temporária permaneceu estável. “Eles nunca deixaram de passar. Havia aquelas trilhas alternativas e eles estavam passando da mesma forma. Então aquela demanda reprimida que era esperada não aconteceu”. A média de pessoas que entram no Brasil por Pacaraima permanece a mesma, de 450 a 500 por dia. Porém, as solicitações de estadia giram em torno de 150 a 200 pessoas.