Após um longo período de suspensão das atividades escolares presenciais devido à pandemia do coronavírus, o Brasil vive o enorme desafio de recompor a aprendizagem na educação básica: 91% dos estudantes da rede pública voltaram às aulas de forma totalmente presencial no primeiro semestre de 2022, e 94% estão matriculados em escolas que estão promovendo algum tipo de ação para enfrentamento das lacunas deixadas pela pandemia.
Cerca de oito em cada 10 estudantes têm a possibilidade de participar de atividades que favorecem um bom relacionamento entre os colegas, como jogos, brincadeiras ou saraus. No entanto, apoio psicológico (40%) e aulas de reforço (39%) são oferecidos para menos da metade dos estudantes, com fortes desigualdades regionais – no Sul, o percentual de estudantes cujas escolas dão aula de reforço é de 53%, enquanto no Nordeste esse número cai para 28%.
Os dados são da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada pelo Datafolha, que entrevistou 1.308 pais e/ou responsáveis por 1.869 estudantes, a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Entre os estudantes que participam de ações de apoio psicológico ou de reforço escolar, a avaliação dos pais e responsáveis é que ambas atividades contribuem muito para os alunos (74% e 70%, respectivamente).
Vale destacar que, segundo os responsáveis, cerca de 34% dos estudantes estão tendo dificuldades para controlar as suas emoções – número que sobe para 40% no Ensino Médio. Além disso, 24% dos alunos estão se sentindo sobrecarregados e 18% estão tristes ou deprimidos.
A etapa qualitativa da pesquisa, realizada pela Conhecimento Social, mostra que não há oferta padronizada e sistematizada de ações de enfrentamento aos desafios impostos pela pandemia. O apoio psicológico é oferecido pelas escolas, segundo as famílias ouvidas, em casos pontuais. “Na minha escola, eles identificam se um aluno está dando muito trabalho, chamam os pais, marcam a psicóloga e os pais levam. Não é para todo mundo; só quando a escola identifica que está precisando muito”, revelou uma das mães participantes dos grupos de discussão.
De acordo com os responsáveis ouvidos pelo Datafolha, 21% dos estudantes podem desistir da escola – percentual que atinge 28% entre adolescentes matriculados no Ensino Médio. A perda pelo interesse nos estudos é o principal motivo para esta preocupação (32%), sobretudo nos anos finais do Ensino Fundamental (37%). Outro destaque é que a falta de acolhimento, como razão para a preocupação dos pais com abandono e evasão, subiu entre dezembro de 2021 e maio de 2022, saindo de 15% para 23%.
“Essa nova rodada da pesquisa com pais e responsáveis mostra que a reabertura das escolas foi essencial para quebrar uma tendência crescente de desmotivação e desalento dos alunos com os estudos. Apesar disso, os desafios pela frente ainda são enormes: ainda não estamos fazendo o suficiente para garantir a saúde mental dos estudantes e o seu engajamento com as aulas, que são condições necessárias para que eles recuperem as perdas de aprendizado da pandemia e progridam na sua trajetória escolar”, analisou Daniel De Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.
Sobre a pesquisa
Esta foi a 9ª rodada das pesquisas Datafolha que vêm sendo realizadas a pedido de Itaú Social, Fundação Lemann e BID desde maio de 2020. É a primeira da série após o retorno das atividades presenciais em quase todas as escolas públicas do país.
A pesquisa ouviu 1.308 pais e responsáveis por 1.869 estudantes. As entrevistas foram realizadas por telefone mediante aplicação de questionário estruturado, com cerca de 30 minutos de duração. O período de coleta de dados foi entre 06 e 27 de maio de 2022.
A etapa qualitativa foi realizada pela Conhecimento Social, por meio de três grupos de discussão online, com moradores das cinco regiões do Brasil. Os grupos foram feitos entre 20 e 22 de junho de 2022.