De 2018 a 2022, foram registrados 1.285 óbitos pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami. Do total de mortes, quase metade (505) foi de crianças menores de um ano. Os números ainda são preliminares e constam no Relatório da Missão Yanomami, do Ministério da Saúde.
A Taxa de Mortalidade Infantil no DSEI Yanomami apresentou-se de maneira ascendente até 2020, quando atingiu o maior número, e permaneceu acima do observado em todo o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena de 2018 a 2022. O SasiSUS é o único sistema no mundo voltado especificamente para uma parcela da população e foi criado com a garantia da participação e controle social, através dos conselhos locais, conselhos distritais e das conferências nacionais de Saúde Indígena.
De maneira geral, a Taxa de Mortalidade Infantil reflete as condições de desenvolvimento socioeconômico e infraestrutura ambiental, bem como o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna e da população infantil.
Quanto aos componentes da mortalidade infantil, o componente neonatal (0 a 6 dias e 7 a 27 dias) representou 57,8% dos óbitos em menores de um ano de 2018 a 2022, o que indica falhas na atenção à gestação, ao parto e aos cuidados recebidos no nascimento, e também ao desenvolvimento econômico e social dos yanomami, bem como a condição socioeconômica e de saúde da mulher.
Nos últimos dois anos da série histórica, observou-se uma proporção maior de óbitos em crianças indígenas menores de um ano de idade para o componente pós-neonatal, o que pode estar associado ao desenvolvimento socioeconômico e da infraestrutura ambiental, à desnutrição infantil e às infecções oportunistas.
Higiene e Saneamento
De 2018 e 2022, o DSEI Yanomami notificou 35.103 casos de doenças relacionadas a higiene e saneamento. Nesse grupo, encontram-se as doenças diarreicas agudas, arboviroses, ectoparasitoses, esquistossomose, helmintíases, leishmanioses, tracoma e doenças transmitidas por roedores. Nesse conjunto, as doenças diarreicas agudas representam 94,9% das notificações, e a faixa etária mais atingida é a de crianças de um a quatro anos, que acumularam 43,2% dos casos de DDA no período analisado.
A ingestão de água ou alimentos contaminados é a maior causa de doenças relacionadas a higiene e saneamento, seguida por escassez de água para a higiene, vetores que se relacionam com a água ou o lixo, doenças transmitidas por outros vetores, geo-helmintos e teníases e doenças transmitidas através de contato com a água.
Estado nutricional
O Ministério da Saúde indicou no relatório o estado nutricional das crianças menores de cinco anos e de gestantes atendidas pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, avaliado a partir dos índices antropométricos (peso para a idade e Índice de Massa Corporal gestacional).
O DSEI Yanomami apresentou, preliminarmente, cerca de 5.800 crianças menores de cinco anos e 900 gestações finalizadas cadastradas no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (Siasi) em 2022. Até setembro do ano passado, a cobertura de acompanhamento alimentar e nutricional de crianças indígenas menores de cinco anos foi de 74,5%, sendo que a meta pactuada para este indicador, no Plano Distrital Indígena (PDSI), para o ano passado foi de 90%.
Desde 2017, início da série histórica analisada, o percentual de crianças com déficit de peso aumentou progressivamente, chegando a 56,5% em 2021, enquanto o percentual de crianças com peso adequado caiu para 43%.
O relatório apresenta ainda um mapa da região indicando em quais polo base há maior percentual de crianças com déficit de peso: em oito, o déficit nutricional está entre 61% e 83%.
Condições Precárias
O Relatório Preliminar da Missão Yanomami, com dados levantados de 15 a 25 de janeiro de 2023, apontou vários problemas da Terra Indígena Yanomami. Entre os principais, estão estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e desassistência generalizada.
Além disso, conforme o relatório, a situação em toda a TI Yanomami é de insegurança, com quatro polos de atendimento fechados na região de Surucucu e três em outras localidades, devido a graves ameaças. A equipe constatou que um dos polos foi reformado, mas não pôde ser aberto. Com uma equipe de profissionais de saúde menor que o necessário, o diagnóstico situacional apontou também que não havia preparo para lidar com situações de urgência e emergência, uma vez que a vocação dos polos é o atendimento à atenção primária.
Outro fator que dificultou o atendimento às pessoas na região foi a falta de insumos, em especial, medicamentos. As remoções de urgências necessitam de insumos como carrinho de parada, oxigênio medicinal em cilindro pequeno, desfibrilador automático externo (DEA), suporte de soro.
De acordo com a última extração de dados demográficos, o DSEI-Y atende 31.017 indígenas, distribuídos em 37 polos base em 379 comunidades.