A produção de grãos tem despontado em Roraima nos últimos anos, tendo a soja como protagonista. A expectativa para este ano é que sejam colhidas 130 mil toneladas do grão, 10 mil a mais do que em 2018. Da mesma maneira, a produção de milho, arroz e algodão tem crescido no Estado.
E, ao contrário do que muitos imaginam, a agricultura pode ser uma aliada na preservação do meio ambiente. Exemplo disto é a integração lavoura-pecuária, adotada em muitas fazendas em Roraima. É o que explica, dentre outros assuntos, o presidente da Comissão Organizadora da Colheita da Soja (COC Soja), Ermilo Paludo.
Correio do Lavrado: O que o produtor rural de Roraima precisa para melhorar a qualidade da sua plantação e de sua semente?
Ermilo Paludo: São só duas palavrinhas mágicas: segurança jurídica. O dinheiro vai aonde há segurança jurídica. E o que é isso? É um documento de terras, é a licença ambiental. Já estamos com as áreas de reservas e parques ambientais definidas. É importante ter isso delimitado: ‘isso aqui é para preservação e isso aqui é para desenvolvimento’. Isso é fundamental. Roraima perdeu grandes investidores no passado por falta dessa segurança jurídica. [A insegurança jurídica] não atrai grande capital, atrai especulação, o que não é bom. Nós não precisamos de gente aqui para comprar terra e esperar valorizar, precisamos de gente que venha produzir e gerar emprego e renda imediatos.
O senhor se refere a demarcações de terras indígenas, que resultaram na retirada de produtores dessas áreas. Acredita que foi um atraso para o desenvolvimento de Roraima?
A demora na definição da área é que levou ao atraso. Você arrasta aí 30, 40 anos para definir uma área. Eu cito o caso da região da Yanomami, onde eu tinha a terra titulada, comprada em licitação pública do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], tinha a negativa da Funai [Fundação Nacional do Índio] dizendo que a área não era pretendida e, depois de 20 anos, resolveram montar a área, quando eu já tinha desenvolvido um grande projeto de pecuária lá.
Acho que eles esqueceram de colocar na Constituição de 1988 que a pessoa, para ser retirada de uma área indígena, tinha que receber uma indenização justa, a reposição da terra, mas isso não acontece. Isso gerou muita insegurança em termos de investidores.
Não é que nós somos contra os índios. Isso deveria ter sido demarcado 50, 100 anos atrás. Cada um tem o seu espaço e tem terra para todos. Aqui nós temos uma demografia populacional baixíssima. Agora, tem que definir o que é o quê. ‘Isso aqui é área indígena, isso é de proteção ambiental e isso é para desenvolvimento’.
Nas fazendas, há uma preocupação com o meio ambiente, de promover um desenvolvimento que não agrida tanto a natureza?
A quem mais interessa essa questão ambiental é para o produtor da terra. Ele tem que pensar num sistema sustentável de produção e que o impacto ambiental seja o menor possível. Por quê? Porque isso também é bom economicamente. Eu vou deixar uma fazenda melhor do que eu peguei para o meu filho. Vou deixar para o meu neto uma herança melhor do que eu peguei. A sustentabilidade tem que fazer parte do planejamento do negócio. É talvez o mais importante. Se não tiver sustentabilidade, do que resolve, já que não tem futuro? É uma questão muito importante para o produtor.
Nós temos o plantio direto. Veja o benefício que trouxe para a natureza. Nós temos milho plantado com capim. Tirou o milho, tem a cobertura do solo, no ano seguinte você seca aquele capim, tem uma cobertura vertendo água, não saindo água dos igarapés. Então é bom para o produtor e para a rentabilidade. Temos que pensar na pecuária, no sistema rotacionado, em que o animal só passa três ou quatro dias no mesmo lugar. São coisas sustentáveis. E tem mais: os bancos têm muito dinheiro para quem cuida bem do meio ambiente. Têm programas excelentes para quem investe em tecnologia produzindo mais numa área menor.
Então os produtores de Roraima estão preocupados com o meio ambiente?
Com certeza. Porque como aqui nós estamos na Amazônia, é uma região que requer mais tecnologia do que outras regiões do país. Eu sempre falo: ‘aqui não é lugar para amador, aqui é lugar para especialista’. Roraima é lugar para pessoas que tenham consciência ambiental e saibam fazer uso dos recursos naturais e melhorar inclusive o sustento. É terra para profissional. Amador aqui não se instala. As pessoas que conseguirem fazer tudo com eficiência são pessoas que respeitam o meio ambiente.