“Não vejo como o Future-se combate as desigualdades regionais. Pelo contrário, vejo como aprofundamento delas”. A opinião da presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé, difere daquela defendida pelo secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação, Arnaldo Lima.
Flávia e Arnaldo expuseram seus posicionamentos durante o 3º Congresso Internacional de Jornalistas de Educação, realizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) em São Paulo nesta semana.
Para Flávia, o programa do Governo Federal, que está em fase de consulta pública, preza por criar um arcabouço de captação privada para as universidades federais em tempos de crise econômica, com a queda da capacidade das empresas investirem.
“Não consigo ver como uma universidade que está sem pagar a luz e com problemas para encerrar o ano vai gerar interesse no setor privado para investimentos. O mercado trabalha com risco e vai investir onde tem investimento público”.
A presidente da Associação dos Pós-Graduandos chamou a atenção também para a situação das regiões Norte e Nordeste, que têm uma concentração industrial menor. “Como a captação de recursos privados pode resolver as desigualdades se o Nordeste não tem tanta capacidade industrial de investir nessa instituição federal?”, questionou, acrescentando que os cursos mais procurados – como as engenharias – receberão maior investimento.
Outra crítica feita por Flávia Calé foi quanto à perda da autonomia universitária. “O Future-se, na nossa opinião, fere a autonomia universitária já na sua concepção quando se trata da autonomia financeira e não da autonomia de gestão financeira, como versa a Constituição Federal. Autonomia de gestão financeira pressupõe financiamento público. Isso está inserido num contexto em que as verbas [públicas] não estão asseguradas e propõe um conjunto de medidas administrativas para adaptar a universidade a um modelo institucional que permita a captação de recursos fora, que também coloca em xeque a própria autonomia dessa gestão da universidade”.
Para ela, as organizações sociais – de onde os recursos privados serão captados – respondem às necessidades de mercado e as universidades, em algum momento, precisarão se submeter a esses riscos. “Não está claro como essa relação vai se dar”.