Ítalo Otávio, do Republicanos, foi um dos oito vereadores reeleitos para a próxima legislatura na Câmara Municipal de Boa Vista. Ele foi o candidato mais votado, recebendo 2.775 votos e conquistando 368 votos a mais do que em 2016, quando candidatou-se pela primeira vez.
À reportagem do Correio do Lavrado, ele citou quais os principais Projetos de Lei de sua autoria aprovados, como será o relacionamento com o prefeito eleito Arthur Henrique e quais as prioridades do Legislativo municipal para o próximo ano. Ítalo Otávio defende também uma aproximação maior entre Governo do Estado e Prefeitura de Boa Vista. Confira a entrevista:
Correio do Lavrado: A que atribui esse número maior de votos?
Ítalo Otávio: Não é muito simples dar essa resposta. Acho que essa votação se deve a um trabalho que foi feito não apenas no período eleitoral. Eu venho prestando contas do meu trabalho durante os quatro anos [de mandato]. Acho que o eleitor conseguiu – em meio a tanta dificuldade de avaliar cenários, de ver o trabalho do vereador acontecendo – perceber que durante os quatro anos eu fiz um trabalho. E um trabalho que não foi somente dentro das paredes da Câmara Municipal de Boa Vista, na [avenida] Ene Garcez. Promovemos palestras de valorização à vida nas escolas, plantamos árvores, promovemos cinema nos bairros. Então a gente conseguiu criar uma sensibilidade com o eleitorado, com a população.
Também conseguimos fazer, por meio do gabinete, uma ouvidoria fora da Câmara, escutando problemas de bairros e trazendo-os para dentro da Câmara. Alguns não foram resolvidos, mas muitos foram resolvidos. Então a população conseguiu enxergar em mim um vereador que conseguiu ver a dor das pessoas.
Quais os Projetos de Lei de sua autoria que considera mais importantes?
Foram mais de 20 leis aprovadas. Destaco os projetos da lista de medicamentos nos postos de saúde e da lista dos médicos plantonistas em hospitais. Com eles, eu consigo não apenas dar um conforto à população, mas consigo sempre tá fiscalizando os postos de saúde. Tem outra lei de minha autoria que vai, a partir do ano que vem, promover ações educativas de trânsito na frente das escolas.
Como foi a retomada dos trabalhos presenciais na Câmara Municipal após a eleição?
No dia 1º de dezembro, foram retomados os trabalhos presenciais dentro da Câmara. Foi quando a gente pôde encontrar alguns vereadores que foram reeleitos e também reencontrar aqueles que não tiveram êxito. A gente teve um primeiro contato muito bacana. Estamos cheios de pauta porque acumulou muita coisa por causa do trâmite das sessões. E a gente precisa urgentemente limpar a pauta, votar os vetos do Executivo e depois votar a LOA [Lei Orçamentária Anual] 2021. Ainda tem muito trabalho pela frente e, mesmo os derrotados, ainda são vereadores.
E já há conversas para a eleição da nova Mesa Diretora da Casa Legislativa?
Nosso partido [Republicanos] foi protagonista nessas eleições, elegendo quatro vereadores – além de Ítalo, foram eleitor Sandro Baré, Gabriel Mota e Manoel Neves. É a primeira vez que o partido fez os quatro primeiros colocados. Mostra que nós temos representatividade eleitoral. É uma vontade do povo que o Republicanos tenha essa força e essa representatividade, senão não estaríamos tão bem colocados
Porém, não são os eleitores que votam pela Mesa Diretora. É uma eleição interna, que vai acontecer no dia 1º [de janeiro de 2021], mas as conversas já iniciaram. Não é o mais bem votado que sai na frente. Pelo contrário, a gente precisa identificar entre os vereadores eleitos aquele que deixa trabalhar, o que eu acredito ser o ideal.
O Mauricélio [Fernandes, atual presidente da Câmara Municipal e que não tentou a reeleição para vereador] teve uma aproximação muito grande com o Executivo Municipal. Mas eu votei nele [para presidência] e ele me deixou livre para trabalhar. Então eu pude fazer as minhas coisas, mesmo fiscalizando o Executivo Municipal. Ele não me repreendeu disso. Aprendi com ele que o próximo presidente tem que deixar cada um trabalhar. O próximo presidente vai ter que deixar essa marca, aprender com os acertos e minimizar os erros [do Mauricélio] para que a gente possa dar voz e vez a esses vereadores.
Ao mesmo tempo que articulamos a Mesa Diretora, sou muito amigo do Idázio da Perfil [vereador reeleito do MDB], confio muito no trabalho dele. Sinto que ele se aproxima muito do trabalho que o Mauricélio fez. Então não seria nenhuma desonra ter que apoiar o vereador que deixa os outros trabalharem.
O senhor pretende se candidatar à presidência da Câmara?
Deixo o meu nome à disposição dos vereadores. Até porque para somar tem que dividir. Eu entendo isso e, às vezes, a minha pouca idade [34 anos] não vai permitir que os vereadores vejam o que eu poderia fazer por eles. É preciso uma pessoa de um pouco mais de pulso. Por mais que eu queira crescer politicamente, ter um pouco mais de voz, eu abriria mão disso por um contexto coletivo.
[O vereador] Idázio tem mais chance de vencer a disputa por ser do mesmo partido do prefeito eleito?
A história não fala isso. A história mostra que quem o Executivo apoia sempre tem um fator a menos. Mas o Idázio é uma pessoa agradável e sabe ser cordial com os vereadores. O ponto positivo dele não é ter a Teresa [Surita] como aliada, é exatamente a personalidade dele. Nós precisamos de uma Câmara que atue com harmonia com o Executivo Municipal, mas que não seja subserviente. Precisamos de uma Câmara que fiscalize os recursos públicos, que saiba que o Diário Oficial tem que ser respeitado, assim como a transparência. A gente precisa que todas as ações do Município aconteçam para que tragam benefício para a população e não que grupos de vereadores sejam beneficiados de uma forma ou outra para agradar o Executivo se calar quando pautas importantes vêm para a Câmara ou quando tentam silenciar a fiscalização. Não serei esse vereador, sendo presidente ou não. E quero muito que o Município avance. O Município avançou em várias áreas, mas ainda falta avançar em outras. Precisamos cuidar da população.
E como será a sua relação com prefeito eleito?
O Arthur [Henrique] é um cara por quem tenho um carinho. Eu o conheço, gosto muito dele. De toda forma, desejo sorte. Ele tem uma responsabilidade muito grande e precisará de inteligência e bondade para gerenciar a máquina pública, ao mesmo tempo que ele pode contar com a Câmara e comigo. Ele não pode achar que nós iremos fechar os olhos com relação ao trabalho. Quero todo o bem dele, mas estou aqui por um único motivo: fiscalizar os recursos públicos, aprovar leis e emendar leis e assessorar para que as pessoas tenham voz no nosso município.
Qual a prioridade para o Município no pós-pandemia?
Acredito que a pandemia não vai perdurar muito. Um ponto que acho que precisamos avançar e muito é nesse relacionamento entre Governo do Estado e Prefeitura. Estamos falando de uma capital com tamanho de estado. O Hospital Geral de Roraima precisa estar bem alinhado com a saúde municipal e vice-versa. O governador e o novo prefeito precisam ter um novo diálogo.
Temos outras pautas, como mobilidade urbana, plano de resíduos sólidos, saneamento básico, animais de rua, atenção aos idosos… É uma responsabilidade do Município ter políticas públicas nesse sentido. Temos pessoas que ainda passam fome dentro de um Município tão pequeno. Tem pessoas que querem trabalhar e estão impossibilitadas pela ausência de vagas nas creches para as crianças. As mulheres estão em casa, deixando de arrecadar dinheiro e ter oportunidade de vida porque elas têm que cuidar das crianças. Temos que cuidar disso.
Não dá para elencar um único assunto, que seja prioridade, mas pensar em tudo isso com planejamento arrojado, não apenas publicidade, inauguração de posto de saúde, equipamento chegando. Precisamos avançar no mercado de trabalho, em parceria com micro e pequenos empresários e desburocratizar algumas coisas.
Quais são as suas prioridades como vereador?
A minha prioridade é cumprir com minhas promessas de campanha, que é dar mais transparência ao meu mandato, defender categorias, ouvir e promover audiências para gerar melhorias para os bairros. Os problemas do Santa Tereza não são os mesmos do Nova Cidade, que não são os mesmos do Caranã e do Paraviana. Vou fazer auditoria de todos os problemas dos bairros, ouvir as pessoas seja por live, por audiência pública na Câmara, reuniões nos bairros para que a gente possa levar esses assuntos até o Executivo e que ele possa dar soluções.
Vou manter todas as minhas ações. Aprendi nesse mandato que eleição se vence com a vontade da população, com união. Fui o mais votado, mas tenho voto assim como os demais. A gente precisa pensar agora naqueles que precisam do trabalho político.