Seguindo a decisão de outros estados, Roraima vai antecipar a aplicação da segunda dose da vacina contra a covid-19 fabricada pela AstraZeneca/Fiocruz. Assim, o intervalo da vacina será reduzido de 90 dias para 60 dias. O objetivo, segundo a Secretaria estadual de Saúde, é garantir um avanço maior na proteção da população.
De acordo com o secretário de Saúde, Airton Cascavel, a medida é válida inicialmente para a vacina AstraZeneca. “Com a antecipação, a expectativa é de que a população esteja mais protegida contra a doença, visto o surgimento de novas variantes, o que reforça a necessidade da aplicação das duas doses para garantir a efetividade da vacina. Precisamos evitar ao máximo a contaminação por uma nova variante, agindo em todas as frentes para evitarmos mais internações e mortes”, reforçou.
Porém, a Fiocruz posicionou-se contra a medida, esclarecendo que o intervalo de 12 semanas entre as duas doses considera dados que demonstram uma proteção significativa já com a primeira dose e a produção de uma resposta imunológica ainda mais robusta quando aplicado o intervalo maior. Adicionalmente, o regime de 12 semanas permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um maior número de pessoas.
“O regime de doses adotado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) está respaldado por evidências científicas e qualquer mudança deve considerar os estudos de efetividade e a disponibilidade de doses. Até o momento, a vacina produzida pela Fiocruz tem se demonstrado efetiva na proteção contra as variantes em circulação no país já com a primeira dose”, apontou.
Em nota, a Fiocruz citou ainda que, em relação à variante delta, uma pesquisa da agência de saúde do governo britânico aponta que a vacina da AstraZeneca registrou 71% de efetividade após a primeira dose e 92% após a segunda para hospitalizações e casos graves. Os dados são corroborados também por um estudo realizado no Canadá, que apontou efetividade contra hospitalização ou morte, para a variante Delta, após uma dose da vacina da AstraZeneca de 88%.
A Sociedade Brasileira de Imunizações e a Sociedade Brasileira de Pediatria emitiram nota conjunta defendendo a manutenção do intervalo de 12 semanas da vacina AstraZeneca. As duas entidades médicas defendem que “o número de mortes e hospitalizações que serão evitadas caso mais pessoas recebam a primeira dose, em especial em um cenário de estoques de vacinas limitados, supera substancialmente os eventuais prejuízos acarretados pelo prazo estendido”.
A SBIm e a SBP reforçam que a decisão de estender o prazo até 12 semanas conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda que os países com alta incidência de casos e restrições no acesso à vacina se concentrem em alcançar a maior cobertura possível com a primeira dose. “É evidente que, num cenário em que não houvesse estoque limitado de doses, a estratégia de postergar a segunda dose das vacinas poderia ser reavaliada. No entanto, infelizmente, este não é o caso do Brasil e de muitos outros países neste momento”.