No mais recente Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, os pesquisadores indicaram a manutenção da tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade da doença, o que permite afirmar que a “terceira onda” epidêmica no Brasil, com o predomínio da ômicron entre os casos, está em fase de extinção.
Porém, os cientistas alertam que esse quadro não significa o fim da pandemia e pode ser alterado caso surjam novas variantes mais letais ou que escapem da imunidade provocada por vacinas contra a covid-19. A análise é referente às Semanas Epidemiológicas (SE) 12 e 13 de 2022, período de 20 de março a 2 de abril.
A tendência de queda se reflete também nos casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) por Covid-19. Nas fases mais críticas da pandemia, 98% das internações por SRAG eram positivas para covid-19. Atualmente, essa proporção se encontra em 50,7%.
Outro indicador estratégico, a taxa de letalidade por covid-19 permaneceu em valores próximos a 0,8%. Ao longo de 2021, conforme indica o Boletim, esses valores oscilavam entre 2% e 3%. Foram reduzidos para 0,2% no início de 2022 e em março passaram para 1%. A redução desse indicador, observada durante a terceira onda epidêmica, é atribuída principalmente à vacinação de grande parte da população-alvo e à menor gravidade da infecção pela variante ômicron.
Perfil demográfico
A fase atual mostra um rejuvenescimento da pandemia com novo padrão a partir da base da pirâmide e não pelo topo. A idade média das internações e óbitos vem reduzindo significativamente. A mediana das internações também apresentou queda nas duas últimas semanas: agora, a idade média das internações se mantém abaixo dos 60 anos.
Em relação aos óbitos, metade dos eventos foi registrada em pessoas com no mínimo 74 anos. Na visão dos cientistas, esta evidência reforça a ideia de que a população, principalmente a mais longeva, possui maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da covid-19.
Ainda quanto aos óbitos, o estudo mostra que a variabilidade em torno da idade média aumentou durante esta fase da pandemia. Ao mesmo tempo em que casos graves e fatais estão mais concentrados nas idades mais avançadas, cresce a contribuição de grupos mais jovens, principalmente de crianças no total do número de casos.
“A idade se estabelece com um fator de risco independente para o agravamento. Por outro lado, há a maior vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão deste grupo à vacinação. O que ocorre é uma maior contribuição relativa dos grupos extremos da pirâmide etária para as internações e óbitos, especialmente das crianças”.
Entretanto, a manutenção da letalidade no grupo de 80 anos e mais é motivo de preocupação, de acordo com o estudo. Segundo os cientistas, esse fato reforça a necessidade de vacinar aqueles que ainda não tomaram a terceira dose, assim como a aplicação da quarta dose naqueles elegíveis.
Importância da imunização
Em relação à vacinação, o quadro atual é de 82,5% da população com a primeira dose, 75,4% com o esquema de vacinação completo e 37,1% com a dose de reforço. Estes números não são homogêneos entre os grupos etários. Para a população idosa, cujo risco de agravamento é reconhecidamente maior, os níveis de cobertura vacinal para primeira e segunda doses são elevados (100% para população acima de 60 anos) e também para a dose de reforço (mais de 80% para os indivíduos acima de 70 anos). Em contrapartida, na população com menos de 30 anos, apenas 1 em cada 3 brasileiros tomou a dose de reforço.
Neste sentido, a análise do perfil demográfico merece destaque. Em que pese o fato de o número de internações ter diminuído, proporcionalmente elas têm ocorrido mais entre idosos – o que já era esperado, diante do risco aumentado – e entre crianças. Por esta razão, é necessário ter atenção especial ao estímulo para a vacinação entre os idosos, já que para eles está disponível a quarta dose da vacina, e as crianças de 5 a 11 anos, para as quais a cobertura vacinal ainda cresce de forma muito lenta.
Apesar do quadro mais controlado da pandemia neste momento, o vírus continua a circular em todo o mundo. Portanto, frisam os pesquisadores, é fundamental que se mantenha um grau suficiente de imunidade em toda a população. Para isso, é preciso ampliar a cobertura vacinal com esquema completo (duas doses e mais o reforço).
“Esta meta só será alcançada se a população tiver confiança e clareza sobre a segurança dos imunizantes oferecidos pelo SUS. No entanto, grupos antivacina têm bombardeado a mídia com propagandas e campanhas sem nenhuma base científica. Os estudos são unânimes em revelar os benefícios das vacinas e afirmar que o risco de eventos adversos com seu uso é menor que o risco de ter complicações causadas pela doença”, alertam.
O Sars-Cov-2 e suas variantes vão continuar a circular e a vacinação pode ajudar a controlar e reduzir a sua transmissibilidade e velocidade de reprodução. No entanto, é imprescindível que se invista na manutenção da vigilância epidemiológica, da testagem e da vigilância genômica, que são fundamentais para detectar precocemente novos casos, novas variantes e orientar os gestores quanto às medidas de bloqueio e adequação da produção de vacinas eficazes para as novas variantes. Com os resultados dos estudos em andamento será possível definir se haverá necessidade de incluir as vacinas anti-Covid-19 no programa regular de imunização. “As vacinas precisam ser vistas como um bem público, pois quanto maior o número de pessoas imunizadas melhor para a coletividade, e a proteção deve estar disponível para todos”, finalizam.