De 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, foram registrados 756 nascimentos no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, única maternidade pública de Roraima. Desse total, 375 foram encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal em razão da prematuridade, ou seja, quase metade.
Segundo a responsável técnica pela UTI Neonatal da maternidade, neonatologista Débora Maia, de 30% a 40% dos partos prematuros – aqueles que acontecem antes das 38 semanas de gestação – ocorrem por infecção urinária materna não tratada adequadamente. “Aliado a isso, nós temos os traumas, a diabetes descompensada, doenças cardíacas da mãe, incompatibilidade do útero em manter a gravidez, por exemplo”, comentou.
Em geral, o recém-nascido é encaminhado para a UTI Neonatal porque não se adaptou ao pós-nascimento. “A gente imagina que, no processo intra-útero, o bebê não faz esforço nenhum, pois ele é alimentado pela placenta. O processo de nascimento é estressante, ou seja, rapidamente é cortado todo esse apoio, e o bebê tem que assumir todas as funções [de respiração, alimentação etc.]”, explicou Débora.
Conforme a médica, quanto mais prematuro, menos o bebê está preparado para assumir essas funções. “Basicamente todos os bebês com menos de um quilo e meio ficam na UTI porque eles precisam de algum suporte. Eles não estão preparados para lidar com som, luz, movimento, estímulos… Para isso, a UTI está disponível e preparada para atendê-lo”, disse.
Conforme a neonatologista, a literatura médica indica que bebês acima de 24 semanas de gestação são viáveis, quando há poucas ou quase nenhuma sequela. “Só que, de 24 até 29 semanas, o processo é muito delicado. Então o índice de óbito ou de sequelas graves nesse período é altíssimo. Quanto mais próximo de 24 semanas, menor é a viabilidade desse recém-nascido. Na nossa maternidade, nós conseguimos ter uma boa viabilidade dos nossos bebês que nascem com 27 semanas de gestação”, afirmou Débora, indicando a sequela neurológica como a mais comum.
Ao receber alta, o bebê e a família recebem atendimento pelo método Follow-Up, com equipe formada por neurologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, pediatra, nutricionista, psicólogo e oftalmologista.
Importância do pré-natal
Conforme Débora Maia, nos últimos anos houve um aumento de nascimentos prematuros na maternidade, e uma possível causa para isso é a falta de acompanhamento pré-natal adequado. “Um pré-natal bem feito faz o rastreio dessa gestante exatamente para evitar que ela tenha problemas [como a infecção urinária] e, caso tenha, que seja tratada de forma adequada e o mais precoce possível”, apontou.
“O pré-natal é um processo de preparação da mulher, que está passando por uma transição absurda, tanto de hormônios, quanto corporal. Existem coisas que a gente não tem como controlar, mas, no geral, uma gestação com consultas por equipe multiprofissional bem feitas tem tudo para dar certo”, concluiu a médica.