Já está montado em Boa Vista o hospital de campanha para os profissionais da Força Nacional do SUS que foram enviados pelo Ministério da Saúde (MS) atuarem nos casos graves de saúde de pacientes yanomami que estão na Casai (Casa de Saúde Indígena).
A equipe formada de 11 voluntários assistenciais e um gestor central já está trabalhando na unidade, principalmente nos casos de malária, pneumonia, diarreia e insuficiência respiratória em crianças, que foram potencializados por desnutrição.
Os registros da unidade improvisada foram feitos pelo jornalista Felipe Medeiros, em colaboração para o Correio do Lavrado.
Na sexta-feira (20), o governo federal decretou emergência em saúde pública de importância nacional (espin), e posteriormente, no sábado (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou Boa Vista e anunciou que os habitantes da região da Terra Indígena Yanomami receberiam auxílio e que o garimpo ilegal seria combatido na região. Ele disse ainda ter ficado abalado ao ver as fotos sobre a situação de abandono em que se encontra a etnia.
A T.I. Yanomami vive uma explosão de casos de malária, incidência de verminoses evitáveis, infecções respiratórias e agravamento da desnutrição, especialmente entre crianças e idosos. O quadro de desassistência em saúde no território é agravado pela permanência de mais de 20 mil garimpeiros invasores na área demarcada, segundo estimativas de autoridades e organizações não governamentais.
Esse cenário também foi descrito nesta terça-feira (24), pelo secretário de Saúde Indígena do MS, Ricardo Weibe Tapeba, que classificou como alarmante o cenário da saúde pública nas comunidades Yanomami. Ele relatou que mais de mil pessoas foram resgatadas nos últimos dias.
“Nós acreditamos que mais de mil indígenas foram resgatados nesses últimos dias do território para não morrer. Nós acreditamos que há inclusive uma subnotificação muito grande [de doenças]”, disse Tapeba durante coletiva de imprensa nesta terça-feira (24) na sede do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) em Boa Vista.
Ele explicou ainda que o hospital de campanha em Boa Vista foi instalado para resolver o problema de assistência dos indígenas que estão alojados na Casa de Apoio e dar assistência para os que estão chegando do território.
“Mas a nossa intenção é levar um desses hospitais de campanha para dentro do Território Indígena Yanomami, para a região do Surucucu, uma estrutura mínima com profissionais materiais e insumos para tentar recuperar todo o esquema de vacinação que foi fragilizado naquela região”, enfatizou.
Incursões em cenário de guerra e presença do crime
Weibe participou de uma incursão em três comunidades Yanomami com o apoio da Força Aérea Brasileira e detalhou que as comunidades vivem um cenário de guerra. “Eu estive no território, quando eu falo em operação de guerra, não é figura de linguagem. [Temos] a todo momento aeronaves pousando e decolando, trazendo e levando pacientes graves”, disse Tapeba, que detalhou ainda que foram resgatadas crianças com o quadro de desnutrição grave e jovens com malária em estado crítico.
Ela ainda afirmou que ainda há regiões da T.I. Yanomami em que as equipes do governo não conseguiram acessar pela complexidade logística e questões de segurança, já que parte dessas comunidades foi invadida pelo garimpo ilegal.
“O garimpo invadiu as aldeias e essas comunidades estão à mercê do crime organizado. Eu não falo garimpeiros, eu falo crime organizado, porque são muitas pessoas armadas coagindo e não se intimidam com a presença da Força Aérea Brasileira”, disse.
Intervenção no Dsei-Y e novo coordenador
Ricardo adiantou ainda que o Dsei Yanomami vai passar por uma intervenção, em que será feita uma auditoria interna para avaliar contratos de medicamentos e de realização de voos de empresas com o órgão.
“Nós pretendemos implantar uma auditoria interna para acompanhar essas questões envolvendo contratos. O fato é que é um absurdo a gente ter que, inclusive, pensar nessa possibilidade de desvio de recursos para medicamentos, por exemplo”, frisou o secretário.
Ainda na terça-feira, o governo federal exonerou 11 chefes distritais da Secretaria de Saúde Indígena em todo o país. Entre eles está Marcio Sidney Sousa Cavalcante, que era o coordenador distrital de Saúde Indígena do leste de Roraima.
Sobre as demissões, Weibe afirmou que a saúde indígena estava aparelhada pelo militarismo e que a Sesai está avaliando em Brasília as documentações recebidas para novos coordenadores dos distritos e que os cargos não terão indicações políticas.
“Vamos analisar as indicações que chegaram aqui para o distrito. O que eu posso dizer pra vocês é que sozinho, o próximo coordenador ou a próxima coordenadora não conseguirá fazer a intervenção que nós precisamos aqui dentro, por isso nós temos colocando também a uma equipe nossa de Brasília que deverá pelo menos nos primeiros meses também atuar ou orientando alguma atividade”, disse.