Uma das vozes indígenas mais conhecidas no mundo, Davi Kopenawa Yanomami deu um depoimento sobre a crise sanitária e humanitária que afeta indígenas yanomami em Roraima, especialmente as crianças.
Uma estimativa feita pela Hutukara Associação Yanomami, entidade que representa o povo yanomami e que é presidida por Davi Kopenawa, aponta que 570 crianças morreram nos últimos quatro anos. O líder indígena afirma que as mortes são causadas pela desnutrição e por doenças como malária, tuberculose, disenteria e verminose.
Além do garimpo ilegal, a interferência política e os desvios de recursos destinados à saúde são apontados como causas para a crise sanitária e humanitária, reconhecida pelo Governo Federal na semana passada.
Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara, diz que a crise na Terra Yanomami não é recente. “Avisamos há muito tempo, chamamos a atenção da sociedade local, nacional e internacional. Fizemos relatório, documentário… Hoje é tipo uma explosão de acontecimentos. Pedimos socorro, mas a sociedade não indígena não escutou a voz da Hutukara”.
Corroborando a fala do pai, Dário credita ao garimpo ilegal a morte das centenas de crianças e culpabiliza o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo incentivo ao garimpo ilegal. “Os yanomami, sem garimpo, não vão morrer sozinho, não vão passar a situação que está acontecendo hoje. Muita gente tá morrendo de malária, de tuberculose, de diarreia”, assegura.
A solução, aponta o vice-presidente da Hutukara, é desintrusar os cerca de 20 mil garimpeiros que atuam na porção roraimense da terra indígena Yanomami. “Aonde não tem garimpo, as crianças tão saudáveis. Tem comida, banana, macaxeira, e os pais e mães tão alimentando seus filhos”, conta, reforçando que no lado amazonense do território yanomami não há registro de garimpo ilegal.
Sobre campanhas de arrecadação de alimentos e envio de cestas básicas às comunidades, o líder indígena afirma que são pouco efetivas. “Isso pode ajudar um pouco, mas não é efetiva para salvar a população yanomami. O que vai ajudar é fazer a desintrução do garimpo ilegal, esse é o ponto mais importante para salvar o nosso povo. Depois colocar assistência de qualidade, remédio, profissionais com conhecimento em saúde indígena… Cesta básica não vai ajudar o meu povo”.